Notas desaparecidas, matrículas em atraso e exames em risco: o drama dos estudantes da FCS da UAN
Sem confirmação de matrícula e com notas a desaparecer do sistema, estudantes denunciam prejuízos académicos, financeiros e emocionais.
O ano académico 2025/26 na Universidade Agostinho Neto (UAN) arrancou, oficialmente, em Outubro do corrente ano. Contudo, para dezenas de estudantes da Faculdade de Ciências Sociais (FCS), o início do calendário académico contrasta com uma realidade marcada por notas desaparecidas, matrículas por confirmar, silêncio institucional e “sistemas dispersos”.
O Jornal Académico ouviu estudantes do 2.º, 3.º e 4.º anos dos cursos de Ciência Política, Antropologia, Comunicação Social, Gestão e Administração Pública, que descrevem um cenário recorrente de desorganização académica, com impactos directos na sua progressão escolar.
Apesar de já estarem em curso as primeiras provas parcelares do 1.º semestre, há estudantes que, a esta altura, continuam sem confirmação formal de matrícula, situação que levanta dúvidas sobre a validade das avaliações realizadas e sobre a própria regularidade do ano académico.
As notas que desaparecem e a ausência de explicações
No centro das queixas está o e-Super FCS, sistema electrónico destinado à gestão académica, consulta de notas e acompanhamento curricular (tanto para discentes, docentes e gestores do departamento de assuntos académicos da instituição). Segundo os estudantes, não se trata de uma falha pontual, mas de um problema crónico que há anos tem estado a dificultar-lhes vida estudantil.
Ano após ano, dizem, notas de cadeiras já concluídas deixam de constar do histórico académico sem aviso prévio, explicação técnica ou despacho administrativo que esclareça a situação. As tentativas de obter respostas junto da decania esbarram, segundo os relatos, num silêncio institucional ou em promessas de resolução que nunca se concretizam.
“Já não sabemos se é um problema técnico, administrativo ou tão somente incompetência. O que sabemos é que as notas somem e ninguém assume responsabilidade”, afirma um estudante do curso de Ciência Política.
Mesmo não matriculados, são obrigados a fazer provas
A contradição torna-se ainda mais evidente quando estudantes sem matrícula confirmada continuam a realizar provas parcelares. Alguns não constam nas listas oficiais das turmas, outros não têm acesso pleno ao sistema interno da faculdade, mas são chamados a avaliações que podem, futuramente, não ter qualquer validade.
“Estamos a fazer provas sem saber se, oficialmente, somos parte faculdade”, relata uma estudante do curso de Administração Pública, que pediu anonimato por receio de represálias académicas.
Entre dois sistemas: o e-Super e as filas bancárias
Outro ponto crítico identificado pelos estudantes é a fragmentação entre os sistemas académico e financeiro. Os pagamentos de propinas e taxas continuam a ser efectuados fora do e-Super FCS, o que obriga os estudantes a fazerem deslocações presenciais a bancos, cumprir longas filas e, posteriormente, voltarem à Contabilidade para entregar os comprovativos manualmente.
A ausência de integração tecnológica atrasa a actualização do estatuto académico dos estudantes, bloqueia matrículas e impede o acesso normal às avaliações e aos serviços académicos.
“Para fazer um simples pagamento, como o de uma folha de prova, por exemplo, temos de levantar vários RUPE's e, depois, ir a um ATM aturar uma fila enorme, muitas vezes expostos ao sol.”, resume um estudante de Comunicação Social.
Sonhos interrompidos e desgaste emocional
Os impactos ultrapassam o plano burocrático e administrativo. Estudantes em anos avançados relatam dificuldades para desenvolver Trabalhos de Fim de Curso, solicitar certificados, candidatar-se a bolsas, estágios ou oportunidades profissionais.
Além do impacto académico e financeiro, os estudantes referem desgaste emocional, ansiedade constante e sensação de abandono institucional.
“Não pedimos privilégios. Pedimos previsibilidade, organização e respeito pelos nossos direitos académicos. Queremos estudar”, ressalta uma estudante de Antropologia.
O silêncio da instituição
Até ao fecho desta reportagem, 23 de Dezembro de 2025, o Jornal Académico tentou, sem sucesso, obter um pronunciamento oficial da Reitoria da Universidade Agostinho Neto sobre as denúncias apresentadas.


Comentários
Enviar um comentário