Pós-graduação cresce em Angola, mas carece de base científica sólida, alertam avaliadores

O ensino pós-graduado em Angola regista um crescimento expressivo, mas especialistas alertam que a expansão está a ocorrer sem o devido lastro científico, o que pode comprometer a qualidade da formação avançada e a credibilidade dos graus académicos.

Segundo o Relatório Nacional de Avaliação Externa 2024, do Instituto Nacional de Avaliação, Acreditação e Reconhecimento de Estudos do Ensino Superior (INAAREES), o número de cursos de mestrado e doutoramento aumentou mais de 40% entre 2019 e 2024, passando de 85 para 121 programas activos. No entanto, apenas 23% desses cursos possuem projectos de investigação científica institucionalizados, e menos de 10% publicam regularmente em revistas indexadas.

A Universidade Katyavala Bwila e o Instituto Superior Politécnico do Cazenga (ISPOC) são apontados como exemplos de boas práticas, por manterem núcleos de investigação activos e parcerias internacionais que garantem supervisão e intercâmbio científico. Já outros estabelecimentos, sobretudo privados, foram classificados como “programas de risco”, por funcionarem com menos de 40% de docentes doutorados e ausência de laboratórios ou centros de pesquisa operacionais.

A docente e investigadora Amélia Mingas recorda que “a pós-graduação não pode ser apenas uma extensão do ensino de licenciatura. E o mestrado e o doutoramento devem estar ligados à criação de conhecimento e à solução de problemas nacionais. Sem investimento em investigação, as universidades apenas certificam, mas não formam investigadores.”

Os dados do INAAREES mostram ainda que a produção científica nacional continua concentrada em menos de cinco universidades, representando 80% dos artigos publicados entre 2020 e 2024, o que revela um sistema desigual e frágil.


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