Ensino superior cresce em número, mas continua a falhar na qualidade
Relatórios do INAAREES e de investigadores universitários indicam que, apesar do crescimento expressivo no número de matrículas, persistem fragilidades estruturais na docência, na investigação e na avaliação da qualidade das instituições.

O ensino superior angolano vive um momento de crescimento sem precedentes. Segundo o MESCTI, o país acolhe actualmente mais de 331 mil estudantes no ensino superior, dos quais 332 mil de graduação e 3.845 de pós-graduação. Este aumento populacional foi comemorado pelos responsáveis do ministério como um reflexo do compromisso nacional com o capital humano.
Contudo, os dados oficiais divulgados pelo INAAREES (Instituto Nacional de Avaliação, Acreditação e Reconhecimento de Estudos do Ensino Superior) apontam para uma outra realidade. O aumento de estudantes não está a ser acompanhado por uma melhoria proporcional da qualidade académica. Na 3.ª fase da Avaliação Externa, foram avaliados 287 cursos de graduação, dos quais 139 obtiveram acreditação condicional, enquanto 148 foram chumbados, por não cumprirem requisitos mínimos.
Também na área das Ciências da Educação, dos 139 cursos avaliados em 37 instituições do país, 69 não foram acreditados, o que representa quase metade da oferta formativa avaliada. Adicionalmente, avaliações específicas às ciências da saúde identificaram que, de 115 cursos avaliados, apenas 55 cumpriram entre 60% e 70% dos critérios de avaliação (nível C), mas 60 cursos foram não acreditados, muitos por falhas em indicadores obrigatórios como corpo docente, infraestruturas e investigação científica.
O Ministro Albano Vicente Lopes Ferreira reconheceu o descompasso entre o crescimento quantitativo e os padrões de qualidade exigidos. Nas declarações públicas, afirmou: “Os resultados obtidos por esses cursos, em termos de qualidade, sobretudo nos indicadores obrigatórios, demonstram um desempenho fraco ou negativo”. Para o governante, “a inversão desse quadro dependerá da nossa capacidade de execução dinâmica e criativa dos programas e projectos em carteira, muitos já com financiamento interno ou externo.”
A paradoxal relação entre a academia e o mercado de trabalho
A expansão do ensino superior, liderada pelo sector privado, representa mais de 70% das instituições activas, mas a proliferação de cursos sem acreditação plena continua a levantar dúvidas sobre a consistência do sistema.
Enquanto o número de vagas cresce, a empregabilidade dos graduados mantém-se baixa. Analistas defendem que o desafio principal já não é o crescimento numérico, mas a consolidação da qualidade e da relevância social do ensino superior.
A melhoria da qualidade passa, segundo especialistas, por financiamento real da investigação, formação contínua dos docentes e regulação efectiva do sector, sob pena de o crescimento continuar a ser apenas estatístico e sem impacto significativo algum no real desenvolvimento do país.

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