Angola investirá, em carácter emergencial, 33 milhões de euros na “importação” de docentes cubanos

Contratação emergencial visa suprir carências dos cursos de Medicina e Ciências da Saúde; mas reacende debate sobre dependência externa e formação de quadros nacionais

O Presidente da República, João Lourenço, autorizou uma despesa superior a 33,2 milhões de euros para a contratação directa de professores cubanos destinados a reforçar o corpo docente dos cursos de Medicina e Ciências da Saúde das universidades públicas angolanas.

A medida consta do Despacho Presidencial n.º 288/25, publicado na Iª Série do Diário da República a 20 de Outubro de 2025, e delega ao ministro do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação, Albano Vicente Ferreira, a competência para supervisionar o processo, incluindo a celebração e assinatura dos contratos e a verificação da legalidade dos actos administrativos.

De acordo com o documento, a contratação enquadra-se no acordo de cooperação entre Angola e Cuba no domínio do ensino superior e da formação de quadros. O montante destina-se à aquisição de serviços de docência por especialistas cubanos em instituições públicas com cursos nas áreas de Ciências da Saúde, Engenharia e Tecnologias.

O investimento faz parte da estratégia do Executivo para melhorar a qualidade da formação médica e científica, num contexto em que o país enfrenta défice de professores especializados, sobretudo em províncias fora de Luanda.

Ainda assim, a decisão volta a reacender o debate sobre a dependência externa no sistema de ensino superior e a escassa aposta na formação e retenção de docentes angolanos. Vários especialistas sublinham que, embora o contributo dos profissionais cubanos seja relevante para garantir a continuidade das aulas e o cumprimento dos padrões académicos, o investimento poderia igualmente ser direccionado para o fortalecimento da docência nacional, com impacto mais duradouro.

Com esta autorização, o Governo reforça a parceria histórica com Cuba, que há décadas tem desempenhado um papel activo na formação de médicos e técnicos de saúde em Angola. Porém, analistas alertam que a sustentabilidade de longo prazo do sector dependerá cada vez mais da autonomia científica e pedagógica do país, sustentada por políticas consistentes de capacitação e valorização dos seus próprios quadros

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